'Comecei a me despedir da vida': o relato do único passageiro sobrevivente da queda de um avião com 123 mortos
16/06/2025
(Foto: Reprodução) Na década de 1970, Ricardo Trajano embarcou em uma viagem que mudaria sua vida para sempre. Único sobrevivente de queda de avião com 120 mortos relembra acidente
Ricardo Trajano é apaixonado por rock desde a juventude. Na década de 1970, o jovem cabeludo, fã de grandes bandas mundiais, embarcou em uma viagem que mudaria a vida dele para sempre.
“Meu sonho era conhecer Londres, a meca do rock'roll”, lembra Ricardo.
Ele comprou uma passagem com destino final à capital inglesa. O voo escolhido foi o 820 da Varig, operado por um Boeing 707. No dia 11 de julho de 1973, faltando pouco mais de um minuto para o pouso no aeroporto de Orly, em Paris, o avião começou a pegar fogo. 123 pessoas morreram. Ricardo foi o único passageiro sobrevivente. Outros 10 tripulantes também escaparam.
“Foi puro instinto. Tirei o cinto e fui andando para frente. A fumaça tomou conta de todo avião. Eu caí no chão e comecei a me despedir da vida”, conta.
Ricardo foi encontrado desacordado, irreconhecível, próximo à cabine. Foi confundido com um comissário de bordo. A família recebeu a notícia de que ele havia morrido.
“Quando cheguei em casa, me deu a notícia: o avião do meu irmão tinha caído e que ele tinha falecido. Você desaba”, lembra Regina Trajano, irmã de Ricardo.
Em 73, o voo 820 da Varig pegou fogo, deixando 123 mortos, um único passageiro sobrevivente, com outros 10 tripulantes
Reprodução/TV Globo
O reencontro com a vida
No hospital, em estado crítico, Ricardo não conseguia falar. Ele escreveu em um pedaço de papel o nome, telefone e endereço do pai. Foi assim que descobriram que ele era um passageiro, e não um tripulante.
“Seu filho está mal, mas está vivo”, conta Ricardo Trajano.
A notícia trouxe alívio e emoção à família.
"A emoção é indescritível. Todos que estavam chorando a morte do meu irmã, de repente, se deram a mão para agradecer. Não era mais o choro de um luto, mas, sim de que ele tinha sobrevivido".
Ricardo Trajano, único sobrevivente do voo 820 da Varing, deu entrevista ao Fantástico durante recuperação em Paris
Reprodução/TV Globo
Dois meses entre a vida e a morte
Ricardo passou dois meses internado entre a vida e a morte. Recebeu centenas de cartas de apoio de desconhecidos, com mensagens de fé e esperança.
“Eu lia aquilo como se fosse uma bíblia”, conta.
Jornais noticiaram recuperação de Ricardo Trajano após queda de avião
Reprodução/TV Globo
Um novo capítulo
Hoje com 73 anos, Ricardo vive em Belo Horizonte. Ele considera o dia 11 de julho como sua segunda data de nascimento.
Desde o acidente, Ricardo voltou a viajar de avião, realizou o sonho de conhecer Londres, formou-se em engenharia, teve duas filhas — Júlia e Marina — e passou a compartilhar sua história pelo Brasil, inspirando outras pessoas com sua trajetória de superação.
“Todo santo dia eu agradeço aquele cara lá em cima. Minha vida virou um presente cheio de propósitos e significados.”
Ricardo Trajano, único sobrevivente do voo 820 da Varing, compartilha sua história pelo Brasil
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